A radioterapia faz parte do tratamento de alguns tipos de câncer. A Dra. Anica Andrei, especialista em radioterapia, nos conta o que é a radioterapia guiada por imagens de superfície: quando é indicada e quais os benefícios que traz.
1. O que é radioterapia guiada por imagens de superfície?
A radioterapia guiada por imagem de superfície (SGRT) é uma técnica cada vez mais usada que usa tecnologia de visão estéreo para rastrear as superfícies dos pacientes em 3D para configuração e gerenciamento de movimento durante a radioterapia. A radioterapia guiada por imagens de superfície pode ser usada para muitos tipos de radioterapia por feixe externo, e agora existem inúmeras publicações que apoiam seu uso no tratamento de câncer de mama, cérebro, cabeça e pescoço, sarcoma e outras condições.
2. Como funciona a radioterapia guiada por imagens de superfície? Como o SGRT ajuda no posicionamento do paciente e aumenta a precisão da radioterapia?
O SGRT utiliza a superfície externa do paciente (ex: tórax, abdômen, cabeça) para garantir que a dose de radiação seja aplicada de forma consistente de acordo com o plano de tratamento. Essa tecnologia utiliza três unidades de câmeras para monitorar milhares de pontos na pele do paciente. SGRT é uma poderosa ferramenta de garantia de qualidade que reduz erros de posicionamento do paciente. Esta tecnologia não depende da exposição à radiação, como fazem outros meios de posicionamento do paciente.
3. Como detecta o movimento do paciente?
O sistema SGRT, como o C-rad, faz mais do que verificar a posição do paciente antes do tratamento. Além disso, também rastreia a movimentação do paciente durante o tratamento. O sistema detecta movimentos em seis graus de liberdade. Para cima e para baixo, para frente e para trás e de um lado para o outro, além de todas as rotações. O SGRT faz isso com precisão submilimétrica. Esta verificação de posicionamento em tempo real também funciona como uma salvaguarda durante o tratamento. O feixe de radiação é ativado somente após o paciente estar corretamente posicionado. O feixe é interrompido imediatamente se o paciente se mover.
4. O que acontece durante uma sessão de radioterapia guiada por SGRT?
O primeiro passo é a aquisição de imagens que serão comparadas com as de referência, que são tiradas no plano tomográfico, que é feito no início do tratamento. Caso existam áreas de interesse que não se sobreponham às iniciais, optamos pelo reposicionamento físico do paciente para que ele possa iniciar o tratamento na posição correta.
5. Quais são os benefícios que o SGRT oferece às pacientes com câncer de mama?
Para pacientes com câncer de mama na mama esquerda, que serão submetidos a tratamento radioterápico neste nível, o tratamento de inspiração profunda (DIBH) é um método comprovado para minimizar a dose administrada ao músculo cardíaco, bem como ao volume pulmonar, enquanto maximizando o tempo de dose para o volume de tratamento. Assim, ao final do tratamento, esses pacientes acabam apresentando doses muito abaixo daquelas admitidas como dentro do limite de segurança, tanto para o coração quanto para o pulmão, de modo que não há repercussões ao longo do tempo ao seu nível, o que pode influenciar de forma negativa a qualidade de vida desses pacientes.
6. Quais pacientes podem necessitar desta radioterapia?
O SGRT pode ser utilizado não apenas em pacientes com diagnóstico de câncer de mama não metastático para realização de tratamento radioterápico, as aplicações desta tecnologia também podem ser estendidas para outras localidades. Por exemplo, tumores da cabeça, tumores do pulmão ou tumores abdominais, onde, através da monitorização dos movimentos do paciente, o volume tratado pode ser reduzido e simultaneamente proteger os órgãos em risco adjacentes ao volume alvo. Assim, ao final do tratamento, temos um risco muito menor de termos complicações após o tratamento radioterápico realizado.
7. De acordo com quais critérios é estabelecido o plano de tratamento para um paciente?
Após o paciente comparecer à consulta e após a análise do caso haver indicação para fazer radioterapia, ele se dirigirá ao setor de tomografia, onde realizará o plano de tomografia, que fará a varredura da área de interesse a ser tratada. Serão explicados ao paciente os passos em que deve prender a respiração conforme adequado, para que a aquisição das imagens seja feita sem movimentos para não comprometer o resultado final, ou seja, as imagens da tomografia computadorizada plana, aquela após a qual o paciente seguirá para iniciar o tratamento de radioterapia. Esta tecnologia, SGRT, continua mais reservada para pacientes idosos, cardiopatas ou portadores de doenças pulmonares crónicas, que dificultam a retenção da respiração durante um período de tempo suficiente (aproximadamente 30 segundos).
8. Qual o papel da equipe médica no tratamento radioterápico com manejo respiratório?
A equipe médica, ou seja, médico, físico e técnico, deve colaborar desde o plano tomográfico até o posicionamento do paciente na mesa de tratamento, de forma a garantir que todos os protocolos para este caso sejam seguidos, e transmitir confiança ao paciente que através do que o que fazem é que o tratamento radioterápico seja administrado de forma correta e profissional, e onde seja necessário fazer reposições anatômicas do mesmo para ter uma sincronização com as imagens obtidas inicialmente na TC plana e tratar corretamente o volume alvo proposto.